VIDA E OBRA DO SANTANENSE OSCAR SILVA (1915-1991)


registro iconográfico do intelectual santanense Oscar Silva

Maria do Socorro Ricardo
escritora e pesquisadora


Final do século XIX e princípio do século das transformações, Dona Josefa tem as mesmas ideias que teve ao educar sua filha Vespertina, professora, terá também com seu neto Oscar, que emergiria do ambiente pobre para a vida de escritor festejado. Estamos na Rua Antonio Tavares, rua dos escritores M. R. Almeida, Clerisvaldo B. Chagas e Oscar Silva (1915-1991), em Santana do Ipanema. No entanto, estes meus comentários estarão centrados na epígrafe deste artigo.

Na Europa, onde começou termina a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), no Brasil, Oscar Silva completa 30 anos de idade no ano de lançamento de seu primeiro livro com título de “Asas para o pensamento”. Funcionário público com instruções primárias, ele tinha dois amores: a literatura e a política. A Rua Antonio Tavares havia sido antes Rua Cleto Campelo e, anteriormente, por várias razões que a própria razão ignora, recebera este estigma que carrega até hoje: Rua do Sebo; apesar das versões do estigma da rua que atravessam o tempo, a rua da velha cadeia pública foi o berço de Oscar Silva; esta rua deve ser rebatizada de Rua Escritor Oscar Silva - e passo a palavra ao poder público municipal. Assim, imaginemos a Rua Escritor Oscar Silva. Ali estava aquela casa de flandrerias, que não existe mais, sobre uma nascente de pedras e na pobreza de seu interior ouviam-se as vozes do menino Oscar sob os cuidados de sua avó materna, Dona Zefinha, por quem estava sendo criado o futuro escritor e político alagoano. Minha tia Estellita Alves de Melo Barros Farias e minha mãe compraram muitos produtos em flandres de Dona Josefa. De folha-de-flandres Dona Josefa fazia utensílios domésticos às famílias santanenses.

Maceió dos anos 1950 conhecera a revista Caetés, dos alagoanos Jumbo, Valois e Zambrano; é nesta revista-editora que Oscar Silva publica, em 1953, “Fruta de palma”, um livro de crônicas sobre Santana do Ipanema; outro santanense, Brenno Accioly, estava fazendo o mesmo com “João Urso”; mais tarde, Djalma de Melo Carvalho com “Festas de Santana”, em 1977, sua estreia em livro de crônicas, o que repetiria em outros títulos (a serem comentados). Ainda na revista-editora Caetés – este nome como alusão a parte dos nativos alagoanos – publicaram os escritores Lourdes Caldas, Théo Brandão, Paulo Lopes e outros.

Quase duas décadas após “Fruta de palma”, que é livro-crônica-cacto-nordestino, Oscar Silva assinaria os livros “Água do Panema”, romanceando aspectos de sua época alagoana e com homenagem ao rio, de cheias periódicas, que corta Santana do Ipanema; e mais um livro de contos com título “Sete caras”, uma peça teatral cuja temática é o cooperativismo de título “Semente de paraíso”. A fase paranaense de Oscar Silva, em Toledo, época de outro livro de crônicas, desta vez “Toledo existe” e mais “Toledo: a terra e o homem”, além de “Cartilha de Toledo” e também “Toledo e os seus distritos”, por fim, “Toledo e sua história”, o que ele sugeriu a alguns intelectuais santanenses que escrevessem a História de Santana do Ipanema. Oscar Silva escreveu um livro memorialista sobre a época em que trabalhou com farda militar ao lado do Coronel Lucena Maranhão, em Santana da primeira metade do século XX.

Na década de 1960, Oscar Silva é transferido de Minas Gerais ao Paraná e escolhe Toledo e esta cidade o acolhe. A casa onde morou Oscar Silva com Gildanira, Dona Gilda, ainda existe em Toledo. Nesta cidade, onde o escritor santanense educou os filhos Sócrates, Aristóteles, Pitágoras, Asclepíades, Júlia, Astrogildo, Gilsônia, Arquimedes e Gildete – menção aos personagens de livros que acompanhavam Oscar Silva, com sua cultura autodidática, ele ocupou, desde a criação do Conselho Municipal de Cultura de Toledo, em 1974, uma cadeira da qual representava o município paranaense em inúmeros eventos culturais brasileiros de seu tempo.

VIDA E OBRA
1915 – Nasce Oscar Silva, dia 16 de janeiro. Filho de Marcelino Pio da Silva, funileiro, e Vespertina Azevedo, professora.
1929 – Deixa os estudos primários para trabalhar de tecelão na Fábrica Penedense, em Penedo, AL. Acometido de uma enfermidade, Oscar Silva retorna a Santana do Ipanema.
1932 – Alista-se na Policia Militar de Alagoas, e vai combater na Revolução de 30.
1933 – É promovido a cabo (1º lugar no Curso de Candidatos a Cabo).
1935 – Promovido a 3º Sargento, também por classificação em 1º lugar no CCS (Curso de Candidatos a Sargento).
1938 – Faz parte do 2º Batalhão, após fim do período do cangaço, integrando-se a uma volante que foi a Angicos. Época na qual iniciara sua trajetória como jornalista no extinto Jornal de Alagoas.
1940 - Obteve o 1º lugar em concurso para Auxiliar de Tráfego dos Correios e Telégrafos; optando, porém, pela continuação na carreira militar.
1943 - Deixou a PM, voluntariamente, já como 2º Sargento, para ingressar no Departamento de Viação e Obras Públicas, como Auxiliar de Escrita.
1944 – Ingressa nos Correios e Telégrafos como Auxiliar de Escritório (prova de habilitação feita pelo DASP). Nesse mesmo ano entrou como sócio no Centro Cultural Emílio Maia (segunda entidade cultural de Maceió – sendo a primeira a Academia Alagoana de Letras – AAL).
1945 – Aprovado em dois concursos do DASP: Postalista do Departamento dos Correios e Telégrafos e Escriturário. Em seguida, deixou os Correios e Telégrafos ingressando no Ministério da Fazenda (Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional de Alagoas, depois Alfândega de Maceió). É o ano de seu primeiro livro: “Asas para o pensamento”.
1950 – Novo concurso do DASP: Escrivão da Coletoria Federal, aprovado e nomeado para a Coletoria Federal de Coronel Fabriciano, município mineiro.
1951 – Nomeado Inspetor de Coletorias Federais, em Alagoas, para onde regressa. Em Maceió é eleito como o 1º Orador do Centro Cultural Emílio Maia e reeleito no ano seguinte.
1953 – Retorna a Minas Gerais; ano em que publicou as crônicas com simbólico título de “Fruta de Palma”.
1954 – Vereador mais votado na sigla PTB. Presidente da Câmara durante três anos. Elaborou várias leis importantes, sendo uma delas o Código de Posturas Municipais de Coronel Fabriaciano, ainda no município mineiro.
1957 - Transferido para Resplendor, MG, e, ali, elege-se Vice-Presidente do PTB do município.
1959 - Novo concurso do DASP: Coletor Federal. Nomeado Coletor de Mantena, MG. Ano no qual conquistou o 1º lugar no Concurso Nacional de Contos promovido no Rio de Janeiro, pelo IPASE.
1960 - Fundou o Diretório Municipal do PTB, em Mantena, MG, e é eleito presidente do partido.
1963 – Migra para Cascavel, PR, a pedido, sendo Coletor Federal por nove meses, solicitando remoção para Toledo, PR.
1968 – Ingressou no MDB toledano. No mesmo ano no qual publica o romance “Água do Panema”.
1969 – Posto em disponibilidade no serviço Público Federal, Oscar Silva e outros 5.000 colegas com mais de 35 anos de serviço.
1991 – Falece Oscar Silva, em Toledo, PR, no dia 10 de setembro. Nestes intervalos, desde aqueles anos em Santana nos quais foi criado por sua avó materna, Dona Zefinha, na rua que hoje é Rua Antonio Tavares, numa casa que não existe mais, as viagens de Oscar Silva por este Brasil, o escritor nunca se esqueceu de Santana do Ipanema.

Os 76 anos de vida do intelectual Oscar Silva, autor de obras literárias entre Santana do Ipanema, AL, e Toledo, PR, está lembrado para sempre no Centro Cultural Oscar Silva, que agrega vários espaços culturais e artísticos. Aquela criança sertaneja, com suas atuações políticas, chegou à suplência de uma cadeira na Assembleia Legislativa alagoana na década de quarenta, no século passado. Aquele sertanejo de Santana do Ipanema decide pedir transferência ao Paraná, em 1963, aos 48 anos. Em Toledo, sua segunda terra-mãe, exercera a atividade de agropecuarista em “Santa Júlia”, a sua fazenda modelo.

Na Cooperativa Agrícola Mista do Oeste Ltda, entre 1970-3, Oscar Silva foi Chefe de Pessoal. Em 1976, a convite de Ivo Pedrini, Presidente da Câmara de Vereadores, Oscar Silva exerce o cargo por quase três anos de Diretor Geral do Legislativo toledano.

O jornalista Oscar Silva – velho militante nos jornais Gazeta de Alagoas, Jornal de Alagoas, Diário do Povo na capital alagoana, Folha do Vale e A Voz de Mantena ambos mineiros, e na imprensa paranaense A Voz do Oeste, Diário do Oeste, Nova Geração, Geração em Revista e Revista Recado. Tendo sido redator-chefe em A Voz do Oeste e Nova Geração. Colaborava com os jornais paranaenses Hoje e Paraná este do município de Cascavel para o qual foi nomeado e preferira Toledo: “amor a primeira vista”, como tinha Oscar a alegria em dizer. O homem público Oscar Silva, também suplente de vereador em Toledo, na legenda do MDB, durante 45 dias exerceu o cargo eletivo municipal onde surpreendeu a todos com sua produtividade legislativa.

Vice-Presidente do Clube Brasil e um dos fundadores do Rotary Clube de Toledo, Oscar Silva foi o primeiro presidente da APM do Colégio La Salle, e esta sua experiência na educação o levou depois a presidir a APM do Colégio Estadual Dario Vellozo. A Casa da Cultura do município paranaense que o acolhera, no entanto, era a menina-dos-olhos de Oscar Silva.